domingo, 18 de março de 2012

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Cicatriz

Quem é a "autoridade" da tua vida?
Eras pequeno quando todos te diziam o que fazer, o que pensar, o que sentir, como cagar. Agora és o chamado adulto, com a sagrada aprovação do teu livre arbítrio.
Quem vai sofrer? Quem deve decidir?
Se percebeste o peso que te estou a passar...o que te prende?
Repara em todos os dedos apontados quando ficas nu. Estou aqui a cortar dedos apontados e a ficar nu contigo.
Perceber a natureza humana não é uma sofisticação intelectual, um entretem de uma mente excitada... é algo relacionado com a nossa felicidade! Tudo o que bloqueia a tua natureza, contraria-a ; entra em conflito. No caminho da sua compreenção, percebendo as matrizes do jogo, estas mais capaz de entrar em harmonia.
Ter valores só é benéfico quando sabemos lá chegar. Quando não sabemos, auto-flagelamos, porque está um ideal a ser e "eu não sou assim", nem o alivio de saber alcança-lo.
Eu já me vomitei ao espelho, sei o que é essa merda...essa merda de punir as minhas falhas completamente cego para ver possibilidades de fuga, cortar pulsos e cheirar a merda... ainda choro com essa merda...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cegueiras

Bsta olhar para o nosso corpo subjectivo, para dentro de nós, e ter uma certa noção de tudo o que evitamos. Há coisas que não encaramos, que simplesmente não queremos ver e dissimulamos, deturpamos, sabotamos a realidade com visões mais cómodas. Podemos não aceitar, podemos não compreender. O início é em reconhecer que lá está, o que já é uma predisposição subtil para aceitar.
Se não aceitamos o que somos, geramos tensão e conflito, atitudes destrutivas e insegurança. Todo o receio perante a vida, reside no drama que há dentro de nós. Se temos medo de alguma coisa deveria de ser de nós, pois é de nós que parte tudo o que nos pode magoar. O essencial está dentro de nós e não nos brinquedos exteriores. Se estamos devastados por uma depressão profunda, não há brinquedo, nem mesmo um filho que façam diferença. O essencial está destruído.
Alguns reconheceram o essencial e desenvolveram-no, sentindo em constância estados diametralmente opostos à depressão, que os torna invulneráveis ao chinfrim mesquinho do exterior. A jornada para essa intrepidez perante a vida, inicia com a auto-aceitação, o que exige uma tremenda abertura mental.
Mentalidade aberta é uma capacidade de recepção de estímulos novos, é uma exploração indiscriminada de perspectivas.
Temos de abalar o dado adquirido e toda uma estrutura de conceitos da nossa sociedade actual. De facto é um desafio severo, que requer coragem e lucidez, à pressão social que formatam a nossa mentalidade. A recompensa, é uma satisfação pulsante, um carinho pelo que somos, que favorece uma vontade de absorver a vida, um paladar novo e sensível para degustar as paixões da vida.
A fonte emanante de ideias é extremamente relevante, porque regula a nossa disposição emocional. Alguns ouviram o discurso carismático de Hitler e assimilaram as suas ideias como verdadeiras. Como pôde ele criar tantos seguidores devotos e tantos opositores fervorosos se estamos a falar de ideias supostamente objectivas?
As ideias de Hitler são para a maioria das pessoas predominantemente asquerosas (emocional) e secundariamente erradas (racional). É esse senso de asco que nos faz nem querer ver ou explorar. A sensibilidade contrai-se com certas ideias e visões que nem entraram na introdução do que sustentam. Mesmo a nível consciente e declarado muitas pessoas dizem: “Não quero acreditar nisso independentemente de estar certo ou errado”.
Sou levado a afirmar que a primeira barreira para a compreensão é a emoção. As relações interpessoais chegam a ser muito emotivas, porque activam mais o ego. A nossa lógica e raciocínio permite-nos construir arranha-céus e computadores, mas com uma pessoa à frente esse mesmo raciocínio, na sua coerência, é dúbio. Quanto mais perto do ego é o assunto, mais elevada é a carga emotiva e a distorção dos argumentos, moldando-nos à nossa vontade. A calma é equivalente perante ideias, de distanciamento. É em estados insolitamente calmos que a lucidez e a predisposição para compreender estão à mais elevada qualidade. Vemos em que consiste a ideia, os seus pormenores, a sua objectividade possível, reconhecemos e com a mesma calma tiramos conclusões.
Todo o ser humano está susceptível às distorções geradas, pelo oscilatório neurótico malabarista de opostos na nossa mente. Como um lago, quanto mais calmo e estável está, mais fiel à verdade é o que reflecte.

A assimilação de ideias opera-se por proximidade e afinidade à trama ideológica já existente. São aquelas ideias que já suspeitávamos em tom intuitivo serem verídicas que mais facilmente atravessam o filtro crítico. Generalizando, temos muita dificuldade com a diferença alienígena. Tendemos a criar reflexos de nós, mesmo no âmbito de ideias, se estas são extravagantemente opostas às quais nos identificamos, lugar-comum, são repelidas. Mas se a ideia insiste em aparecer-nos à frente, cria-se uma familiaridade e assim talvez seja assimilada.
Normalmente no argumento e partilha social, chegamos a conclusões por palavras de certa conotação em determinada cultura. “É anti-natura” por exemplo, pode encerrar uma argumentação. Ou “isso é para fracos”. Há milhares de palavras-chave que cessam a reflexão devido à sua conotação de finalidade. Uma espécie de valores sociais. “Estás a ser egoísta”. Chamo-lhes fantasmas argumentativos. Porque não têm fundação argumentativa estruturada. Até pode ter mas não estamos cientes dela quando as aplicamos. Sempre as ouvimos e aplicamos como argumentos sólidos. É inusitado mas fácil quebrar o padrão:
-És egoísta
- Porque não posso ser egoísta?
-Porque magoas os outros com a tua atitude.
-Mas o que me interessam os outros se sou egoísta?
Há como que uma mentalidade colectiva, não em termos de ideologia, essas são muito especializadas e individuais, mas nos processos de argumentação. As convicções e crenças do indivíduo são díspares e peculiares, mas as palavras que usamos para a sua descrição e mesmo a sustentação de tais são quase previsíveis. E mesmo assim, ideias originais de completa surpresa tão fora da mentalidade de enfiar em gavetas, são raras. Mas já com as mais abrangentes há tanta disfunção…
A empatia é das capacidades mais valiosas a nível social, porque mesmo não tendo uma mentalidade igual em determinado aspecto podemos criar identificação com tal pessoa. O suporte inicial da empatia é a humildade. Não a humildade derivada do sentimento de inferioridade como é comum apresentar-se, é uma pena existir mais nessa condição, mas uma humildade gerada por ausência de atitude defensiva, de alguém que não teme uma alteração repentina no seu dado adquirido confortável, de elementos que o fortalecem enquanto ego.
A empatia é uma projecção emocional e mental do outro, na nossa visão. Requer entrega, abertura mental e uma intuição muito apurada dos processos argumentativos. Ouvir palavras de uma pessoa é fácil, ouvirmos as suas sensações é o que nos permite compreender. A barreira da emoção é quebrada e a união é possível.

É altura de aproximar da origem da cegueira:

A sociedade no seu decorrer de épocas suportou muitas mentalidades diferentes. Como “gostamos” de fazer pomos rótulos na testa das pessoas. Uma criança apenas é, natural e sem senso de culpa, não a podemos delimitar na sua loquaz maneira de ser. Mesmo assim tentamos, porque tudo o que representa caos assusta-nos. Temos de pôr as coisas em gavetas e a criatividade primordial do ser nada tem a ver com rótulos gavetas e cercos.
A criança, a ser, nasce livre. A certo ponto quando a comunicação é mais possível dizem às flores que não deviam ter espinhos, começa a repressão de determinados comportamentos, mais comum através de manipulações baseadas no que pode suscitar medo. Coisas primárias são reprimidas e passam para um plano mais inconsciente, comprimidas para recantos da mente, querendo expressar-se e “inchando” atrás do pano do grande teatro. Primárias porque brotam da fonte e não podem ser substituídas, bloqueiam a fonte e cria-se caminhos estranhos de expressão. Os factores secundários começam a estruturar-se, o que seria para Freud, o super ego. Uma multidão simbólica ajudando a repressão dos factores primários, uma trama de certos e errados deambulando em fricção pela mente e indo fundo na nossa constituição elaborando no plano emocional uma coerência entre o que achamos certo e o que se sente ser certo, as mentalidades formam-se na pluralidade de educações possíveis. As ramificações são intermináveis: Canibais, samurais, cristãos, democratas, espiritualistas, nacionalistas e por esse mundo fora.
Ora os factores secundários são descartáveis, daqui a um século tudo será uma outra moda de mentalidades, a essência da natureza humana lá estará, primária, talvez não tão soterrada com máscaras, maquilhagens exuberantes e coisas anormais a que tão bem nos adaptamos, sacrificando o apenas ser. O homem, à sua natureza, rodeou-a de julgamentos e censuras. Em tudo o que constitui o universo apenas o animal humano concebe estar errado ou certo, e sentir culpa, não estar em harmonia e fluir. Pensamos que a natureza humana é perigosa e tem males que ameaçam o conceito de civilização. Pois esses males resultam da falta de aceitação, do julgamento imposto desde cedo. Há maneiras de atenuar os impulsos violentos das crianças, sem necessariamente as reprimirmos. Ao valorizar aspectos sociais e individuais positivos estes crescem e ao não dar atenção aos negativos estes enfraquecem, podendo até ser desviados para elementos inofensivos. E isto da atenção é quase uma lei da natureza possibilitada pelo ser humano. Prestar atenção faz crescer. Se prestarmos atenção com alguma mais intenção a um pensamento ele torna-se mais substancial pois deslocamos através da atenção energia para ele. Uma planta pode desenvolver-se mais rapidamente também por esse processo. Ao focar atenção damos-lhe vitalidade. Ao dar atenção e valorizar uma atitude da criança estamos a reforça-la. Devíamos mesmo festejar desalmadamente o que queremos reforçar na criança. Se fizermos isto por exemplo num desenho que ela tenha feito, ela de certeza desenhará mais, como também o fará melhor porque começa a acreditar na sua capacidade de desenhar. Em vez disso damos mais atenção à criança quando ela está doente. Reforço: Para os canibais, comer um amigo é uma formalidade e sentido como correcto. Somos moldáveis ao inimaginável quando novos. O chamado adulto responsável comum, da nossa sociedade actual não tem competência emocional para educar crianças. Até o riso em excesso é reprimido com severas ameaças de que ninguém vai gostar dela se fizer isto, que a prendem num quarto se faz aquilo. Que se não se cala leva uma bofetada. Depois às vezes é sim outras é não e a criança fica confusa e neurótica. Poucas crianças tiveram a hipótese de o ser. A criança aprendeu a ter medo de agir. Mesmo em adultos continuamos a pedir atenção e aprovação. A mais breve rejeição ocupa-nos a cabeça durante o dia inteiro. Com tanta insegurança como podemos não estar contraídos a estímulos novos?
O medo é globalizado e é tão raro encontrar alguém tão abundantemente satisfeito com o que é. Uma pessoa espontânea reflecte uma grande consideração e aceitação de si. Hesitação e excessiva actividade cerebral não intencionada, acontece na tentativa de resolver conflitos, em principal destaque para o que a pessoa é e deseja mudar. Há sempre algo a mudar, uma insatisfação existencial que não é mais que os errados, a negação e mesmo a fealdade da sua auto-imagem. A pessoa que “é”, que está confortavelmente integrada no presente e espontânea, tem impulsos violentos breves e efémeros causando danos superficiais, à medida da situação. Se mesmo nenhuma raiva tem contra si, pouco terá para os outros.
Já crescidos não são precisos pais ou educadores de alguma espécie, aprendemos a nos reprimir por nós. A repressão mais delicada e perigosa é a sexual. O sexo é um aspecto primário que mesmo reprimido com todas as chantagens não pode deixar de se exprimir. De forma tacanha lá vem das profundezas e exprime-se debilmente e tímido, longe de completo. Tudo o que não é exprimido totalmente incha dentro de nós, acumula em intensidade e este é um dado já constatável de veracidade nas provas objectivas da psicologia convencional.
Os esquimós que existiam há décadas atrás (principalmente esses) mal referiam assuntos relacionados com sexo, porque era tão natural e aceite que não “inchava” por expressão, nem representava alguma espécie de conflito nas suas mentes. Tentar bloquear uma energia tão primária como a sexual germina uma tensão por todo o sistema biológico. Aumenta o nosso potencial neurótico. Disse no início do trabalho o papel da coragem para nos aceitarmos. A nível pessoal todos gostamos de pensar que temos uma mentalidade aberta. Se perguntarmos directamente dá a sensação de haver um feitiço contagiante misterioso pelo mundo fora que inibe alguém dizer:
-Sou uma pessoa muito estreita de perspectivas
É que não me parece (e aqui há de certeza sintonia) viver numa comunidade aberta. Onde estão essas ditas pessoas de mentalidade fechada?
Basta olhar para nós, podemos não aceitar, podemos não compreender. O inicio é em reconhecer que lá está…

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O pedestal está vazio

Ao tentar perceber a estética dos órgãos internos, dei por mim a pairar num vácuo, como uma tela que ficou em branco.
Há uma beleza que quase se esconde, mas foi com arquétipos dessa beleza que comecei a saber o que pintar.
A televisão está a conseguir criar mais valores universais do que os argumentos da ética e as leis divinas da moral, e quando preciso, defende-se pelos mesmos meios dizendo que “é só televisão”. Pois a televisão é o grande artista pintando telas de muita gente, esculpindo a estética dos órgãos internos quando só parece dar dicas de maquilhagem. A televisão é um bom brinquedo para quem controla os filtros críticos, para os outros é influência directa no subconsciente, seja de que cor for…