quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Foi hoje

Hoje um anjo abandonou-me

Ergo-me à beleza desta noite fumegante, de uma escuridão fria e silenciosa. Ratazanas mortas na estrada de alcatrão, uma vela vermelha iluminando a folha de papel.

Abandonou-me pois não mais preciso dele

Consigo parar completamente e fita-lo nos olhos sem a mínima vibração de inquietude. Ele sorri e diz que eu ainda não vi tudo, que a minha intrepidez se alimenta de um orgulho fugaz.
-então explica-me porque começas a gostar de mim?
O Diabo sorri e em gesto expressivo de oferta dá-me um cigarro, ele, desaparece pelas portadas da morte. Acendi o cigarro sem hesitar, como se fosse um dos meus.
O cigarro reagiu no meu corpo com um prazer inócuo, uma prenda do príncipe da dor, de facto um cigarro inebriante. Recostei no sofá refastelado viajando por nenúfares púrpura e bolas de sabão reluzentes, sabor a mel e a sombras quentes.
O Diabo sabe aliciar os seus filhos e esforça-se para expor o quanto fascínio temos por ele…como se algo nele estivesse em nós
Mas eu não sou de ninguém e não gosto de muros, daqueles que dividem. Estou-me a foder em que gavetas de rótulos tentas meter-me. Estreito…o teu preconceito cheira a merda, vê bem quanta cegueira como pontos nulos e sítios que não pressupões sequer e pessoas que não conheceste a fundo porque a superfície era errada. Mas quem eu sou tu não queres saber, gostas de superfícies retocadas e paras por aí. Masturbaste constantemente com os teus sucessos verbais. Quem as pessoas são importa-te desde que te continuem a sorrir

Este texto não te sorri

Diz que és egoísta demais para o veres. Evitas e é só isso que me incomoda. Não é o facto de seres egoísta, é o facto de o evitares. Foda-se ! não vês o que fazes a ti mesmo quando te negas?

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