domingo, 25 de outubro de 2009

Para o comum mortal

Achas ou sabes que algo perdura à morte do corpo…então este texto não é para ti. Sendo assim também não é para mim, é meu, mas já foi para mim. Vai ficar neste blog quando eu morrer e talvez eu o veja depois. Não é de facto para mim, ou será? Se eu encarnar num ser que acredita na morte total, será então para mim. Não é definitivamente para este meu cérebro actual.
Se és alérgico a cemitérios este texto vai-te fazer comichão, não leias… Vamos então supor que não és nada mais que um espermatozóide desenvolvido que ganhou a corrida ao óvulo, nada depois da morte, que a morte é o fim de tudo o que te constitui, não ganhas, não perdes, desapareces; então, quando morres nada ficou por fazer; assim que estás no caixão ou cinza para o oceano, desconheces tudo o que te motivou. Bem, na tua perspectiva estás sempre vivo, nunca te verás morto. O teu funeral fará reunir muita gente (ou não), que chorará por ti (ou por eles?), serás tão importante para eles naquele momento e é uma pena que não o vejas, fechadinho no caixão assim tão sossegado.
Queres morrer velhinho? Com histórias para contar aos netinhos?
Morto, no pálido insubstancial, nada significa. É só a tua ideia enquanto vivo. Vais ter de morrer e nada te vai significar, independentemente de quando… Não te crescem os tomates quando sabes como acaba?
Repara: para ti a consequência eterna é a indiferente nulidade. Quão livre te sentes para isso enquanto vivo? Agora estás aqui, o que vais fazer disso seu monte de carne sonhadora?
“Rest In Peace”.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Lobo

Sorvi do pesadelo o seu demónio amargo.
Com deleite o fiz, propositadamente, pois sabia o que fazia.
Outrora, em pânico, evitava cruzar o olhar com os olhos da minha dor.

“Hoje é a iniciação, o desflorar do Lobo”

Um ácido mórbido fervilhava já pelas veias, uma vez injectado no cérebro, a senilidade neurótica corrói a mente com pensamentos caóticos e de uma súplica incontrolável por conforto. Um elemento novo estava lá para que tudo corresse bem.
Ardendo de medo…eu…prolongava o senso de força. Neste ponto todo o corpo rebentava em chamas cruéis. Fui fundo na dor e nem isso me fez hesitar, longe de fugir.

Sorvi do pesadelo o seu demónio amargo

Nos sorrisos apenas via mandíbulas, as lagoas tinham petróleo e as nuvens cobriram o sol, tão densas eram que parecia noite. Na penumbra ampla, algo insolitamente bom germinava. Uma sensação selvagem de orgulho à minha ferocidade, pois o medo não mais me causava medo. Na escuridão, os meus olhos brilhavam pujantes uma cor âmbar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sair do trilho do pastor

Aquele tirano salivou a tua forca, com palavras infantis de infernos e sombras esfomeadas te esganou o ar. Vives arfando, parcialmente vivo, não ousando a tua liberdade, porque o rei ergueu a sua espada flamejante e espargiu o terror a multidão, bradando trovões ensurdecedores, ditou a lei na tua mente susceptível. Tudo o que te calam, rebenta por dentro. Cheira a tua carne na fornalha, és um predador amordaçado com vegetais. Queres gritar, mas tens farpas na garganta. Querem-te previsível e com medo do caos, que reajas por padrões e inseguro ao ponto de te arrastares por uma vida que não queres. Sabes o que queres?