sexta-feira, 27 de março de 2009

Abertura Mental

NOTA: termos não tão simplistas são utilizados como se de simplistas se tratassem no intuito da boa compreensão.

Perguntem a quem quer que seja, se tem uma mentalidade aberta. Quase todos dizem que sim. Ficamos com a sensação que estamos a perguntar: És ocidental, tens inteligência e bebes café para acordar?
Associamos as novas ideias a outras preexistentes, como um puzzle sem limites, adaptando a nova peça a outras já estabelecidas. Quando aparece uma peça estranha que nada parece ter a ver com o nosso puzzle, vai para o lixo. Mas se a peça reaparece, a pessoa observa-a já não tão estranha e com um bocadinho mais de intenção, talvez encaixe no seu puzzle. O mais difícil é assumir as que já encaixamos estar erradas. Quando temos um conceito formado a priori, este teima em não mudar. É quase matemática: temos ideias do tipo A e se aparece outra completamente diferente do tipo A, caso fatal, não é assimilada. Um bom exemplo é a história bizarra de que a Terra é redonda. Em criança estamos definitivamente abertos. Somos uma esponja gigante desprovida de julgamentos. Que venha tudo! O Pai Natal vive no pólo norte? Boa! O Pai apenas está a lavar a pilinha muito rápido? Boa!
Quando as borbulhas começam a desaparecer, ocorre num tempo não muito distante o perigo de alguém se tornar num filisteu. O filisteu congelou os seus conceitos perante a vida e para estes se alterarem tem de irromper um furacão invertido com uma cor nova e a berrar: Sou uma coisa nova! Não me vês?! Pode não ser o suficiente, mas se o furacão começar a dirigir-se na sua direcção, aí já há mais probabilidades de lhe prestar atenção. Mas, caso corrente, o filisteu tem uma mente fechada, que frequentemente vive o mesmo filme até enjoar de pipocas.
Estamos a falar de acolher ideias novas. As ideias têm um carácter volátil, no sentido de existir uma certa elasticidade argumentativa capaz de as alterar, consoante também a disponibilidade emocional e o distanciamento sendo difícil identificar a mente, a um armazenador frio de factos. Já a capacidade de acolher “experiências” novas, é um assunto mais melindroso. Entendo aqui, reforçado pela nota inicial, experiência equivaler à totalidade de “fenómenos subjectivos” perante um “acontecimento exterior”, delimitando as variantes para o que aqui importa: a experiência da rotina.
Vamos dizer deste modo:
A realidade está em constante mutação, o que há em nós que torna isso parcialmente verdade? O que não nos permite assimilar a sempre renovável realidade, são os padrões de memória. Mesmo presos num poço durante semanas ele só é a mesma situação pela “marca” repetitiva da memória. Mas saindo do poço para a multidão onde tudo é mais claro. É como ter um curso em arte clássica e tentar perceber um quadro moderno, baseado na bagagem clássica. Para exponencial a absorção de experiências, temos de estar entregues ao momento presente, ao aqui e agora. Estar no presente tempo suficiente para a mente não recorrer à memória ou a projecções futuras é algo precioso que guardo no meu percurso de vida…onde está o medo? Bem, num outro artigo. Este é dedicado à capacidade de acolher ideias novas. A mentalidade aberta no sentido mais badalado.
O café deveria ter alguma substância que realmente acordasse. É que não me parece (e aqui estaremos em sintonia) viver numa comunidade aberta. Onde estão eles? Um por um pergunto e todos afirmam:
“Não, eu tenho uma mentalidade aberta, sim”.
Este assunto é importante, pois se a pessoa está fechada nem mesmo o paraíso poderá lá entrar. Insisto: uma ideia pode mudar uma vida. Só o simples prazer de participar no acto criativo da vida, a capacidade de se surpreender, seria já motivo relevante para estar num espírito de receptividade. O filósofo é assim, vive num encanto de descobrir novas ideias. Reafirmo, falamos apenas de ideias e a capacidade de pluralidade de perspectivas.
O sentimento associado ao que uma ideia desperta é relevante na nossa compreensão e tolerância à mesma. As ideias de Hitler são para a maioria das pessoas, predominantemente asquerosas (emocional), e secundariamente“erradas” (racional). A sensação mais lúcida é a placidez. Quando me encontro insolitamente calmo aproveito para reflectir mas isso não garante uma mentalidade aberta. É uma sensibilidade que não está contraída mas predisposta para o desconhecido.Basta olhar para dentro de nós e ter uma certa noção de tudo o que evitamos. Há coisas dentro de nós que simplesmente não queremos ver. Podemos não aceitar, podemos não as compreender.O inicio é em reconhecer que lá está, o que já é uma espécie de aceitação. Isto se olharmos para nós, depois há todos os extraterrestres. Alguns dizem que devíamos aceitar tudo porque não há certo ou errado estanques…

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