segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cupido...ja aparecias não?

Para saberes se estás num sonho atira-te de um precipício, resulta sempre.
Medo…ele avisa, mas já viste, estamos a enlouquecer, é normal.
Ela diz que tem medo. Eu também e depois?

Depois o cataclismo desvela-se num adeus seco e o coração desfalece em vácuo, desmorona-se em lama negra pelas mãos que tentam em pânico existencial o que só ela podia. Caio num poço contorcido, cerrado de escuridão, o ar é espesso sufoco, e ardente delírio. Á superfície alastra-se como peste um deserto que afasta, para as catacumbas da solidão, o peso esmaga a memória da face dela quando ainda me sorria. Salteadores de esperanças exímios nas torturas do desespero gritam chiando dores insuportáveis e eu, só, febril apodreço.

Ok tem algum relevo, mas eu sou daqueles que escorregam sempre no piso molhado porque não vi o sinal. Mesmo quando parto uma clavícula, ou me salta um dente, ou desloco uma rótula, gosto de ser cego. Somos uma grande comunidade, nós, os cegos. Fazemos jantares às escuras só de sobremesas e festejamos tudo, ate o “abraço” que nos dão para ajudar a atravessar a estrada é motivo para agradecer aos deuses, que no nosso caso são como tudo, não os vemos. Ouvi dizer os corações são vermelhos, e às vezes brilham o que interfere com o pensamento. Acho que o meu está a brilhar.

Na realidade não sou cego, mas fecho os olhos sempre que posso, porque a distância é grande e assim vejo-te melhor. Toda a tua beleza cândida transbordando cascatas, e eu absorto contemplo cada subtileza que te pertence. Toda a tua imponência de me cativar sussurrando docemente que entre mais fundo no intenso e na loucura.

Talvez seja eu que tenha mais medo. Quantos já se enforcaram… acho que não deviam confiar um arco e flecha a um miúdo, com asas ou não. Um dia destes irei roubar-lhe aquelas flechas e espeto umas tantas no meu coração, mas talvez nem seja necessário. Como cego tenho “intuições” que me querem para alvo.

1 comentário: